Congresso Fenabrave fecha em tom ácido
“O setor de distribuição de veículos tem hoje cerca de 8 mil concessionárias, gera 400 mil empregos e suas diversas atividades, seja a venda de veículos ou pós-venda são responsáveis por 5,2% do PIB deste País. É a ponta importante de uma cadeia e o governo tem sim a obrigatoriedade de olhar essa importância”, alertou o presidente da Fenabrave, Alarico Assumpção Jr., durante o painel de encerramento do segundo e último dia da 25ª edição do Congresso Fenabrave, realizado na quarta-feira, 16, em São Paulo.
O executivo, que desde o início deste ano está à frente da entidade que representa as associações de concessionárias de todas as marcas atuantes no País, discursou em tom de desabafo ao lembrar que o setor automotivo como um todo tem a maior carga tributária do mundo.
A economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, concordou que um bom início de reorganização da macroeconomia brasileira se daria pela reforma tributária: “Todas as análises dão conta de que a forma como é conduzida atualmente não está funcionando em termos de eficiência, o que acaba penalizando setores fundamentais, como a indústria”, disse.
Em sua explanação, Latif lembrou da trajetória do PIB nacional na última década, apontando o início do descasamento dos fatores consumo das famílias e da indústria a partir de 2009, quando o País começou a sofrer respingos da crise financeira internacional: “Estimulou demais a demanda e o que era para ser um remédio transitório virou veneno. O PIB industrial estagnou e a demanda foi embora, porque houve o elemento chave da inflação, gerando o endividamento das famílias”, comenta. Para a economista, a única saída assertiva para reorganizar a casa é o ajuste fiscal: “Se bem conduzido, é o que vai ajudar a sair dessa estagnação sem muito sacrifício, mas vale lembrar que não deve ser qualquer ajuste. Ele deve ser suficientemente forte para reverter o quadro de aumento de gastos. Além disso, precisa de medidas mais profundas para evitar o problema de insolvência pelo qual patina a economia”, alertou.
Neste contexto, o reitor da Florida Christian University, Anthony Portigliatti, pediu perdão pela mensagem clichê, mas acenou que crises como esta são oportunidades de transformação. Em sua apresentação, fez um paralelo com a crise dos Estados Unidos iniciada em 2009 e que seguiu intensa até meados de 2011. “Passamos nos Estados Unidos exatamente o que vocês [brasileiros] estão começando a passar. O concessionário tem a oportunidade de escolher onde quer ficar: se no grupo da projeção que aponta que 450 casas devem fechar no próximo semestre ou entrar para a história daqueles que apertaram os cintos, reviram seus negócios, enxugaram suas máquinas, estudaram e utilizaram ferramentas digitais e se reposicionaram com estratégia sistêmica e uma nova modelagem empresarial. Aprendemos nos Estados Unidos que o deserto não foi feito para permanecer, mas foi feito para atravessar.”
O reitor indicou ainda que o País pode não estar preparado como precisava estar para enfrentar tamanha crise de confiança. Para ele, as empresas devem adotar estratégias que visem o curto, o médio e o longo prazos para sobreviver à transformação de retomada, que ele espera, se dê em 2017 ou 2018.
Em sua consideração final, Latif apontou para a necessidade de criar formas de estimular o crescimento sustentável a fim de gerar ganhos de produtividade. “Hoje temos um Estado que rouba o potencial de crescimento da indústria. A volta cíclica de crescimento, ela vai acontecer, mas dados os últimos acontecimentos no viés político, vai demorar um pouco mais.”
Por fim, Assumpção reafirmou que a entidade mantém sua resistência com relação ao aumento das alíquotas e do número de impostos. “É necessário criar um elemento que ajude a restaurar a confiança, que é tão importante quanto o PIB. Nós queremos PIB, uma economia estruturada. Com isso, se vende automóvel, se vende caminhão e se entrega máquina para o campo.”